terça-feira, 3 de março de 2009

Então e agora? Outra licenciatura?


Agora, que estamos a chegar ao final de outra etapa de vida, surge a pergunta: "Então o que se segue?". Resposta deveras difícil e demorada, e que muitas outras perguntas trás consigo:"Para onde? Fazer o quê? E com que dinheiro".
Bem, para algumas perguntas a reposta não depende de uma mera decisão pessoal mas, "para onde?" , basta ponderar o ambiente que maior evolução profissional nos vai proporcional - por exemplo um ambiente de Música Antiga oferece-me a possibilidade de tocar e estudar com pessoas que se dedicam a esta Era de séculos atrás.
"Com que dinheiro?", bem, tendo em conta que as nossas finanças de humildes estudantes de música, com alguns biscates não são suficientes, temos que contar com os nossos eternos admiradores e apoiantes, os pais (falo por mim é claro!! Que sorte!!). Os apoios são sempre bem-vindos, mas vá-se lá saber quem é que se junta à causa.
Por fim surge a pergunta mais importante e que alguma polémica levanta - "Fazer o quê?". Vamos então por partes: estudar para a Europa, ou estrangeiro de forma geral, é certo; mas a que graduação concorrer? Tendo em conta que estou a terminar licenciatura seria previsto prosseguir e fazer mestrado ou pós-graduação, no entanto, a realidade dita pela minha tutora é a seguinte: " Apesar de ser incompreensível acabar aqui uma licenciatura em música e, agora com o processo de Bolonha, ir fazer outra lá fora, a verdade é que o nível que aqui se tem e o nível exigido lá fora não são compatíveis". Mas afinal onde está o problema? Que se passa por cá? Será problema nosso, estudantes, ou dos pedagogos, ou o facto de não termos a concorrência suficiente e por isso nos contentamos com o pouco ou o básico?
GERAÇÃO PRESENTE de estudantes de música, cabe-nos a nós fazer com que esta situação não seja tão notória. Vamos dar o nosso melhor, ou ainda, dar tudo o que temos de nós. Não acredito sermos menos que os outros, mas talvez nos falte a confiança e acreditar que conseguimos. Vamos dar à nossa arte a qualidade que ela realmente merece e mostrar que não é preciso ir lá fora para confirmar que a praticamos com qualidade cá dentro.Ir para o estrangeiro para procurar os melhores e fazer de nós os melhores? Sim, mas dar aos nossos o melhor do que possuímos.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ser pianista é...

Ser pianista é não ter férias de semestre.
Ser pianista é não saber o que significa a palavra ‘férias’
Ser pianista é chegar à escola às 8h30 da manhã para ficar com o melhor piano.
Ser pianista é não ir à manicure porque tem que ter as unhas sempre cortadas.
Ser pianista é almoçar à pressa para voltar para o piano.
Ser pianista é ter que tocar 50 páginas em trio, enquanto o violoncelo só tem 5 pág.
Ser pianista é andar sempre cheio de partituras.
Ser pianista é fazer questão de andar sempre cheio de partituras originais.
Ser pianista é orgulhar-se dos estudos de Chopin que já tocou, e dos que vai tocar.
Ser pianista é sentir-se culpado quando estuda menos de 4 horas por dia.
Ser pianista é ter um buraco no tapete que está por baixo do piano, no sítio do pedal,
Ser pianista é ter no mp3 sete versões diferentes da peça que anda a tocar (michelangeli, perahia, martha argerich, brendel, kissin, gilels e pollini).
Ser pianista é sonhar em tocar o concerto de tchaikovsky, só pelos primeiros compassos.
Ser pianista é deitar-se cedo para no outro dia ir estudar cedo.
Ser pianista é não ir ao cinema porque se tem que deitar cedo.
Ser pianista é não ter jantares nem saídas na véspera da aula de piano, porque a aula de piano é sagrada.
Ser pianista é ter 3h de aula de piano.
Ser pianista é ver todos os filmes que há sobre pianistas, e ter os dvd em casa (o pianista, a pianista, vitus, o piano, a professora de piano, shine…).
Ser pianista é amaldiçoar todos os outros pianistas russos e chinêses que vão aos concursos e que ganham os prémios todos.
Ser pianista é tornar-se um bicho insuportável e não falar com ninguém na semana do exame de piano.
Ser pianista é ser especial. (!)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Diácono Luthier

As coisas que uma pessoa aprende num trio de casamentos!
Pois bem, numa destas tardes maravilhosas de fim-de-semana, em que há tantas coisas boas e apetecíveis para fazer, fui tocar a um casamento com um afamado trio. A igreja era lindíssima, e o órgão então! Um orgãozinho histórico é o melhor que há para aguçar a imaginação… Começam-se a puxar registos, e mete daqui, e tira, dali, agora parece uma corneta, tchi, e uma flauta de bisel! E se puxar os registos tod… Bem, adiante, estava muito bem a tocar a Ave Maria de Schubert (aquela peça especial que torna a entrada da noiva um momento super especial, e Único, e ORIGINAL), a cantora com o seu vibratttttto fabuloso, eu quase a chorar… até que o órgão dá um som muito estranho! Assim uma nota lá para os graves. Tirei logo as mãos e pensei ‘Ai Jesus, o que é isto?!’ O lá bemol, sol bemol, fá, mi, e por aí abaixo, não correspondiam às notas verdadeiras. ‘Mas isto é 415 ou quê?’ Pensei eu. Mas depois vi que não era. ‘ As coisas que estes gajos inventam!’, pensei eu ainda. Ponto, lá tive que tocar sextas que soavam a 8as (estranho, para uma pessoa tocar a oitava de ré grave tem que tocar um ré e um fá sustenido grave…). Enfim, depois das adaptações necessárias, mudámos para o Canon do Pachelbel em Ré, outra que ninguém conhece. Houve uns alemães que estavam de visita à igreja que até perguntaram de quem era aquela música, e nós gritámos lá do coro alto ‘ Pachelbel’, ao que eles responderam, lá em baixo, em alemão ‘ O quê? Ravel?’
Adiante, gente inculta é o que não falta por aí. A tecla ré central ficou em baixo e não vinha para cima (e não havia som). Que engraçado, e o Canon era em RÉ!
‘Já fiz asneira’, pensei eu (eu pensei muito neste casamento), e ficámos todos aflitos, órgão histórico e tal, e a tecla não levantava. Fomos então chamar o padre…
Nós - ‘Senhor padre, nós tocámos e aquilo ficou em baix… ‘
Padre - ‘Eu não sou Padre, sou Diácono!!!!’
Nos – ‘Ai desculpe, senhor Diácono, mas é que o órgão… Aquilo tem lá uma tecla que ficou… como é que havemos de dizer… assim um bocadinho para baixo, tá a ver? Assim… pronto, para baixo, e não levanta….’
Padre-que-afinal-era-diácono – ‘ Ah, a primeira vez que isto aconteceu foi na missa da Páscoa de 195…. (etc etc etc, meia hora depois), eu precisava era de uma chave de parafuso para desapertar, mas não há aqui nenhuma’
Nós - ‘Mas uma moeda de 2 cêntimos não dá, ou uma faca qualquer?’
Senhora da Limpeza que estava a ouvir a conversa – ‘Ah, eu tenho aqui uma faca de manteiga, que se calhar serve, eu às vezes uso em minha casa para desapertar coisas. ‘

Bem, o Diácono pega na faca de manteiga e sobe ao coro. Chega ao órgão, desaperta aquilo (com a faca de manteiga!), e põe-se a mexer nas coisinhas de madeira que ligam a tecla aos tubos, uma confusão de pauzinhos, arames, teias de aranha… E conseguiu consertar a tecla de um órgão com mais de 200 anos!

Genial!

Entretanto o noivo já estava para entrar, a noiva estava a chegar… enfim, lá tiveram o seu casamento com o órgão arranjado!

As coisas que estes Diáconos aprendem nos Seminários!!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Postal lindo que recebi do Berliner



‘ Pois é, no Sábado estive na casinha onde o Luizinho foi parido. P*** que pariu, casinha uma ova, Casarona! 14 quartos, jardim, e central ainda por cima.
Queria comprar um fac-simile, mas eram todos muito caros (op. 110 custava 80 euros, a 7º sinfonia custava 450 euros…)
Comprei 3 postais!!!
Lol

Beijinhos ’


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A verdade revelada

Caros Bloguistas
Queiram primeiro desculpar o prolongado silêncio que tem vindo a pautar a minha participação neste maravilhoso conclave de mentes musicais (soa bem, não soa?) mas afirmo que esta demora se justifica devido a um assunto que muito me tem perturbado nos últimos tempos.
A repetida forma com que certos músicos atacam o movimento de música antiga força-me a tomar medidas drásticas. A ignorância preponderante dos… hmm… “classicistas” face a estes assuntos força-me a levantar o véu diáfano com que temos coberto as nossas verdadeiras intenções. Perdoe-me a camarada 415 mas penso que a hora chegou da verdade ser revelada.
Muito bem então…

*Música apoteótica*

Alguns séculos no passado, uma seita secreta de músicos intelectuais (entre os quais Bach, Brahms, Vivaldi, Emanuel e o seu famoso líder… anónimo) juntaram-se para decidir sobre o futuro do som e da humanidade. Tinham o nome de Sonatinni (sucursal mal paga dos Iluminatti mas também quem os mandou ser músicos…) e decidiram numa noite escura de Santa Cecília…

*Trovoadas*

esconder os segredos que mais tarde seriam desenterrados para levar a cabo a invasão de todas as salas de concerto do mundo.
Deixaram como únicos sinais um diapasão e um cravo Hemsch desafinado no meio de Notre Dame (o bordel, não a catedral). O cravo ainda hoje guarda bebidas mas o diapasão esse continha o grande segredo do lá 415…

*Maistrovoadas e um violino desafinado*

Nunca se perguntaram o porquê deste número? Não entendem que cada um dos dígitos guarda a fórmula secreta do número de ouro (exceptuando o 4 mas se subtrairmos 1 temos 3 que já dá), que cada um deles é um número primo (exceptuando o 4 mas dá-se-lhe a mesma volta) e que cada um pertence à sequência de Fibonacci (mesma história)!
Sim, nesse dispasão guardava-se o segredo da nossa força… a capacidade de não fazermos nenhum sentido em qualquer contexto de afinação!!

*Gargalhada maléfica*

É já tarde demais para nos pararem!
Neste preciso momento, uma infantaria dos melhores cromornes aguarda ordens para atacar a Sala de Concertos de Viena onde emitiremos a nossa mensagem!
O nosso ataque será rápido, preciso e inégal!!
Os nossos números são muitos e mesmo assim as pessoas da última fila não nos vão conseguir ouvir!
Mataremos os vosso animais de estimação e das tripas faremos as cordas dos nossos instrumentos!
Queimaremos os pianos e forçaremos os pianistas (hereges!!!) as tocar sonatas de Schubert non-stop num pianoforte!!!
Guardaremos os metais em frigoríficos gigantes para que toquem a lá 392 (mesma história dos números só que como o 9 não dá subtraímos 2)!
Votaremos cidades inteiras ao silencio absoluto para que oiçam ao longe um clavicórdio a tocar o nosso hino de vitória!!!

BACH ÜBER ALLES

BACH ÜBER ALLES

BACH ÜBER ALLES


Apreciem os vosso últimos momentos de paz e musical de Orff… qualquer tentativa de resistência será devidamente punida com uma sessão de esclarecimento sobre as muitas maravilhas do flageolet.
Esta mensagem será re-afinada dentro de
5
4
3

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Memórias de Infância

Cada vez que o choque de nos estarmos a tornar membros activos da sociedade nos atinge, mais e mais pessoas gostariam de poder voltar atrás no tempo. Já todos pensámos coisas como “antes é que era bom, quando a maior preocupação que tinha era acabar a colecção de cromos das donettes/tartarugas ninja...”.

Isto acontece com particular frequência em tempo de subida de impostos, ou na sala de espera do dentista antes se entrar para meia dúzia de desvitalizações, ou ainda durante a interminável espera ao frio, à chuva e sob uma pedregulhada de calhaus de gelo às 3h47 da matina na estradeca secundária nº159A ao largo de Ranholas-a-Pastora (em que se avistaram lobos esfomeados ainda no outro dia, lembra-se a pessoa de repente) que precede a chegada do reboque que vai levar o nosso calhambeque avariado de valor real de 5 cêntimos a fazer uma “make-over” de largas centenas de euros, para que ele possa durar mais 9 dias e ainda ter o aspecto de uma cafeteira calcificada...!!!!! (ok, admito que depois da primeira hora de espera a pessoa envolvida começa a ter uma ligeira tendência para dramatizar).

Mas voltando ao que interessa... Há uns anos atrás comecei a notar que certas conversas se repetiam de tempos a tempos. Em particular, a dos desenhos animados da nossa infância!

Dependendo da geração, era certo e sabido que se falava do Vitinho, da Abelha Maia, do Bocas, o boi de tamancos e jardineiras vermelhas, da Bia, a pequena feiticeira, e inúmeros outros. Claro que nem todos se lembravam... E a maneira de se lá chegar era a cantar as canções dos genéricos iniciais.

Fui então ao You Tube à procura de mais pessoas com a chamada Síndrome de Partilha de Músicas, variante genéricos (ou SPM genérica, em curto), que nos deixa com a nostalgia à flor da pele e um desejo ardente de falar sobre o passado.
Descobri que o mal é mesmo global! Aparentemente, muitos sofrem desta condição.

Por exemplo:
“sailor moon” video results 1 - 20 of about 326,000
“he man” video results 1 - 20 of about 613,000
“dragon ball” video results 1 - 20 of millions

Nenhum destes é muito do meu tempo, mas caramba, 300 e tal mil pessoas sentiram a necessidade de partilhar a Navegante da Lua com o resto do mundo (e muitas mais de a voltar a ver)! Acho que isto é prova suficiente.

Outros tantos dedicam-se a imortalizar as tais músicas de genérico e outras. Deixo aqui dois fantásticos exemplos de pessoas que levam a sua criança interior muito a sério!

sábado, 4 de outubro de 2008

Pianos de Cauda

Assim como existem teorias que dizem que o Homem descende dos macacos, existem também teorias que o Piano de Cauda descende do Cravo...

Disparates!

Todos nós sabemos que o Piano de Cauda surgiu directamente do piano vertical.
Aliás, se formos a ver as semelhanças entre os dois nota-se óbvio que fazer com que os Pianos de Cauda viessem do cravo se torna numa teoria um pouco rebuscada.

Esta evolução teve a ver com vários factores sociais e culturais.
Com o crescimento das famílias e com a massificação da fotografia surgiu a necessidade de criar um Piano com muito mais capacidade para por todas as fotografias de família.
A tampa do piano vertical já não era suficiente para tanta fotografia e o piano na casa das pessoas deixava de ter a sua função e muitas famílias começavam a optar por outras cómodas maiores (sem teclas) para por as fotografias lá de casa.
Como seria de esperar, a venda de pianos dessa altura desceu a pique e muitas marcas de pianos, como sabemos, desapareceram. Os constructores de pianos estavam num dilema e havia que melhorar o producto de modo a poder combater as suas dificuldades e os constructores de cómodas de "Hall de entrada".

Aqui surgiu o Piano de Cauda!

Um piano maior, horizontal, com muito mais superfície para fotografias e ainda desenhado com vários princípios ergonómicos. (Nomeadamente a sua curvatura que criava um perfeito encosto, até para as donas de casa mais pesadas.) Existiam vários modelos nos catálogos dos constructores, desde o mais pequeno, até pianos com quase 3 metros de comprimento para as famílias mais numerosas, ou simplesmente para aquelas com mais fotografias e jarras de flores para os encher.
Era o piano perfeito!
Ainda hoje em dia podemos ver estes magníficos móveis em muitas casas com inúmeros retratos de família e do casamentos dos filhos...

Fica aqui uma breve história do Piano para os que sempre se perguntaram como é que este surgiu...